GOHONZON É O ESPELHO QUE REFLETE A VERDADE DA NOSSA VIDA

O  presidente Ikeda explana que o Gohonzon é como um espelho que reflete a verdadeira natureza da nossa vida. É a expressão máxima da sabedoria do Buda que capacita todas as pessoas a atingir a iluminação por meio do desafio à sua realidade.

Hoje, gostaria de discorrer sobre um ponto importante, referente à nossa atitude na fé, usando a analogia do espelho. No budismo, espelhos têm vários significados e geralmente são utilizados para explicar e ilustrar aspectos das diversas doutrinas. Por isso, quero discutir brevemente um exemplo do espelho em nossa prática budista.
Nichiren Daishonin diz: “O espelho de bronze, ao ser polido, reflete o aspecto físico de uma pessoa, mas não o seu coração. Ao contrário, o Sutra do Lótus reflete, com clareza, não apenas o aspecto físico de uma pessoa, mas também o seu coração, e ainda o carma do passado, assim como o do futuro” (GZ, p. 1521). 



Um espelho, mesmo de bronze, ao ser polido, reflete o aspecto físico de uma pessoa. O espelho do budismo, no entanto, revela o verdadeiro aspecto da nossa vida e reflete com nitidez o carma do passado e do futuro.

O espelho reflete o que é visível aos olhos, enquanto o espelho do budismo reflete a vida que é invisível aos olhos. O espelho, na realidade, é produto da sabedoria humana criado para refletir a luz e imagens de objetos e pessoas. O Gohonzon, por sua vez, é a expressão máxima da sabedoria do Buda que tornou possível a iluminação das pessoas pela manifestação do verdadeiro aspecto da própria pessoa com base nas leis da vida e do universo. Assim como o espelho é indispensável para revelar nosso aspecto, precisamos do espelho da vida que nos permita observar a nós mesmos e a nossa vida para edificar uma existência mais bela e feliz.
De acordo com a frase do escrito “espelho de bronze, ao ser polido”, citada aqui, antigamente os espelhos eram produzidos com metais polidos, como cobre, bronze ou mesmo ferro e, ainda, com a mistura de estanho. Diferentemente dos atuais, que são produzidos a partir do vidro, a imagem refletida por aqueles de bronze ao serem polidos não era nítida. Além disso, tais espelhos ficavam facilmente embaçados e necessitavam de constante polimento para serem utilizados. O polimento exigia uma técnica especializada e quem a detinha era um “polidor de espelhos”. Em Kamakura, na época em que Nichiren Daishonin viveu, os espelhos eram de metais. 
No escrito Atingir o Estado de Buda Nesta Existência consta: “Tal situação se assemelha a um espelho embaçado que brilhará como uma joia quando for polido. A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado, mas ao ser polida, tornar-se-á como um espelho límpido, que refletirá a natureza essencial dos fenômenos e da realidade” (CEND, v. I, p. 4). 

Assim como um espelho embaçado ao ser polido brilha como uma joia, a vida na escuridão inata, se for “polida”, refletirá com clareza a luz da Lei Mística. Portanto, a vida de todas as pessoas é, na realidade, um espelho límpido e brilhante. Se esse espelho for polido, a vida será a de um buda, do contrário, se ficar embaçado, será a de um mortal comum na escuridão inata. Polir a vida é orar a Lei Mística. Não apenas devemos realizar essa prática para nós mesmos, como também ensinamos a Lei Mística para outras pessoas e nos esforçamos para fazer brilhar o “espelho da nossa vida”. Nesse sentido, podemos até dizer que somos “mestres polidores dos espelhos da vida”.
Apesar de tudo, o ser humano geralmente pode até embelezar o rosto, mas polir a vida é muito difícil. Uma mancha no rosto o incomoda, porém é indiferente com a mancha da alma. (risos)
No romance O Retrato de Dorian Gray, do escritor inglês Oscar Wilde (1854–1900), o protagonista, Dorian Gray, um jovem bem apresentado e de rara beleza, era chamado de “jovem Adônis”. Para eternizar sua beleza, certo pintor fez o seu retrato. Um excelente trabalho que expressava também espetacular beleza e juventude. No entanto, ocorreu um fato curioso. Influenciado por um amigo, Dorian Gray foi gradativamente percorrendo um caminho de prazeres e de maldades. Uma vida diária de imoralidades. Apesar de tudo, sua beleza não mudava; continuava radiante. Mesmo após muitos anos, sua juventude permanecia intocada. Mas, aos poucos, seu retrato foi se tornando feio como se acompanhasse a vida degenerada de Dorian Gray. 
Ele brincou com os sentimentos de uma jovem e a levou ao suicídio. Naquele momento, sua expressão no retrato era de tamanha crueldade demoníaca que causava medo apenas de olhar a sua imagem. Dorian Gray continuava com suas ações maldosas, o que provocava uma mudança também em seu retrato. Ele começou a sentir medo. Esse “rosto de sua alma”, horrível, permaneceria eternamente após sua morte, expressando a realidade com eloquência e fidelidade. E não teria sentido nem mesmo se ele se tornasse uma pessoa de bem. Então, Dorian Gray decidiu: “Vou destruir este retrato! Se não houver esta imagem, posso me separar do passado e me tornar uma pessoa livre”. E perfurou o retrato com uma faca. 
Naquele instante, ao ouvir os gritos, as pessoas correram e encontraram o retrato do belo e jovem Dorian Gray e um velho caído à frente do quadro. Era o aspecto horrível de um homem (Dorian Gray) que tinha em seu peito uma faca cravada. Ou seja, o retrato era a “imagem da sua vida” e a “imagem da sua alma”, e era a expressão das causas e efeitos de suas ações. O rosto pode ser maquiado, mas a alma, jamais, pois a lei da causa e efeito é absoluta.
O budismo cita o princípio de Intoku yoho — “virtude invisível e a recompensa visível”, no qual as virtudes invisíveis são mais importantes que as visíveis. No mundo do budismo, ninguém escapa dos efeitos de suas ações — sejam boas ou más; portanto, não há significado nenhum em aparentar o que não é. A alma é esculpida pelas boas e más causas de uma pessoa e reflete no seu próprio aspecto. Na Inglaterra, há um ditado: “O rosto é o espelho da alma”. Da mesma forma quando se olha no espelho para se maquiar, para embelezar a alma, é necessário ter um espelho límpido para refletir as profundezas da vida. Este espelho não é outro senão o objeto de devoção para observar a mente (Gohonzon). 
No escrito O Objeto de Devoção para a Observar a Mente, Nichiren Daishonin diz: “Somente quando olhamos num espelho limpo conseguimos ver, pela primeira vez, que possuímos todos os seis órgãos dos sentidos” (CEND, v. I, p. 373). O espelho limpo é o que nos mostra os seis órgãos dos sentidos: olhos, ouvido, nariz, língua, corpo e coração. De forma semelhante, “observar a mente” significa “observar” os dez estados de vida, especialmente o estado de buda. E o Gohonzon é o objeto de devoção para observar a mente, que Daishonin estabeleceu para toda a humanidade. 
Nichikan Shonin, em seu comentário sobre esse escrito, declarou: “O verdadeiro objeto de devoção (Gohonzon) pode ser comparado a um límpido espelho”. 
No Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Nichiren Daishonin afirma: “Os cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo refletem todos os fenômenos do universo, sem exceção” (GZ, p. 724). O Gohonzon é o mais límpido de todos os espelhos e que revela o universo exatamente como ele é. Quando oramos a este Gohonzon, somo capazes de evidenciar o estado de buda, a “observação do verdadeiro aspecto da nossa vida”. A determinação da nossa prática da fé é revelada fielmente no Gohonzon e reflete no grande universo. Este é o fundamento do princípio de ichinen sanzen (três mil mundos num único momento da vida).
Para Abutsu-bo, seu discípulo na Ilha de Sado, Nichiren Daishonin escreveu: “Talvez o senhor acredite que tenha feito oferecimentos à torre de tesouro d’Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros, porém, isso não é verdade. O senhor fez oferecimentos a si próprio” (END, v. 5 p. 9). 
A atitude de orar ao Gohonzon e praticar solenemente a fé, propriamente, é adornar a própria torre de tesouro. Quando oramos ao Gohonzon, imediatamente, todos os budas e bodisatvas do universo manifestam sua proteção. A calúnia produz exatamente o efeito contrário. Além disso, o “coração” é muito importante. A determinação da prática da fé é muito sutil. Por exemplo, existem momentos em que, mesmo durante a realização do gongyo ou na luta pelo kosen-rufu, nós nos sentimos relutantes. Ocorre que esse estado de espírito é refletido fielmente no grande universo como um espelho. Nesse caso, as entidades protetoras do universo também se sentirão relutantes em desempenhar suas funções e consequentemente falharão em manifestar sua proteção. (risos) 
Por outro lado, quando se realiza alegremente o gongyo e conduz as atividades com determinação para acumular boa sorte em sua vida, as entidades protetoras do universo sentirão prazer em desempenhar valentemente suas funções. De todo modo, as ações realizadas espontaneamente e com alegria se reverterão em benefício próprio. Já que vai realizar é melhor que seja deste modo.
Se praticar de forma negligente com o pensamento de que é pura perda de tempo, sem fé e com lamentações, tudo isto destruirá a boa sorte. Se uma pessoa continua a praticar deste modo, ela não experimentará os notáveis benefícios, e isto servirá somente para aumentar sua crença de que a prática é em vão. Isto se tornará um círculo vicioso. Quando a pessoa realiza uma prática da fé duvidando dos resultados, esta fraca determinação é refletida no espelho do universo e os benefícios serão insatisfatórios. Ao contrário, quando a pessoa se levanta com forte convicção, ela acumulará infinita boa sorte.
Portanto, a atitude mais inteligente é controlar o próprio coração e empenhar-se em elevar sua fé com jovialidade e vigor. Quando assim o fizer, tanto a vida como tudo que o cerca se desenvolverão amplamente, e cada ação que tomar se tornará uma fonte de benefícios. A compreensão sutil desta determinação (ichinen) é a chave para a fé e para se atingir o estado de buda nesta existência. 
Um ditado russo diz: “De que vale criticar o espelho se o rosto é torto”. (risos) De maneira semelhante, a felicidade ou infelicidade de uma pessoa é o resultado do reflexo do equilíbrio das causas boas ou más acumuladas na própria vida. Não se deve culpar ninguém. Isto é muito mais verdadeiro no mundo da prática da fé.

Uma comédia clássica japonesa conta a seguinte história. Havia um vilarejo onde ninguém possuía espelhos. Naquela época, espelho era um artigo de luxo. Um marido que retornou da capital trouxe de presente para a esposa um espelho. A mulher, que pela primeira vez na vida se viu num espelho, questionou a imagem refletida: “Quem, afinal, é esta outra mulher? Você a trouxe da capital?” Então, uma tremenda discussão teve início. Embora seja uma conhecida história, é fato que muitas pessoas tornam-se zangadas ou aflitas acerca dos fenômenos que, na realidade, são reflexos de sua própria vida — seu estado de espírito e a causa que criaram. Como a esposa na história que exclamou: “Quem, afinal, é esta outra mulher?”.
Devido a esta ignorância, diante do “espelho da vida” do budismo, tais pessoas são incapazes de ver a si mesmas como realmente são. Se a pessoa sequer conhece a si própria, não poderá conduzir outras pessoas para o correto caminho da vida. Tampouco será capaz de perceber a essência da verdadeira natureza das ocorrências na sociedade.

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